terça-feira, 10 de junho de 2014

Estação Consolação

                     
           − Pode.
           E foi assim que aconteceu. Com apenas uma palavra, eu estava livre, pela primeira vez. Andar pelas ruas? De ônibus? De metrô? Sozinha? Sem ninguém? Tem certeza? Por mais incrível que pareça, a resposta foi sim.
           Um show incrível aconteceria naquela sexta, numa casa de música e cultura perto da estação Consolação de metrô. Alguns amigos mais velhos de outro colégio iam também, mas existia um pequeno problema: nunca tinha andado sozinha de transporte público ou na rua, muito menos de noite. Depois de pensar em milhões de outras alternativas, percebi que seria melhor acabar logo com esse sofrimento. 
           Perguntei para minha mãe e ela deixou, disse que já estava na hora de eu aprender a me virar, mas é lógico que não foi tão simples. Quis saber de tudo, fez questão de que eu lhe ligasse a cada passo que desse e voltasse no horário combinado. E logo comecei a pensar em detalhes que eu nem mesmo sabia que eram importantes: que ônibus pegar? Quando ele passa? Como saber o ponto certo para descer? Que sentido tomar no metrô? Como saber quando levantar? Ao sair do vagão, que direção devo tomar? E depois da catraca? 
           Quando o dia chegou, eu já estava preparada com milhares de mapas e celular carregado no máximo, caso ocorresse algo não esperado. Saí de casa mais ou menos às 15h, algumas horas mais cedo do início do show, pois minha mãe não queria que eu andasse sozinha muito tarde, e peguei o ônibus com tranquilidade. Consegui sentar, não estava muito cheio, e foi bem fácil saber quando descer. Mas no metrô foi outra história: as portas fecharam muito rápido, fui empurrada, não consegui segurar direito e logo estava eu caída esmagada sufocada suada entalada enlatada em pé sentada e era um tal de mão na bolsa mão na bunda mão na mão que eu quase não aguentei.
           Mas finalmente cheguei à minha estação, e ao sair de lá e me ver sozinha em meio à Avenida Paulista nunca me senti tão livre. O show foi bom, mas melhor ainda foi saber que eu tinha ido lá por mim mesma, sem precisar depender de ninguém. 
           Desse dia em diante, fui adquirindo minha liberdade aos poucos, indo cada vez para mais longe. Mais longe de meus pais, mais longe de casa, mais longe da minha infância. E pretendo continuar assim, até alcançar meu destino.